Com a reforma tributária, os sistemas de informação do agronegócio terão desafios tecnológicos e organizacionais, diante dos novos impostos e alíquotas.
Os sistemas de informação cumprem papel de grande importância para a área contábil e jurídica das empresas do agronegócio e com a reforma tributária terão de ser reformulados, visando a uma adaptação aos novos impostos e suas alíquotas.
A reforma tributária aprovada no Brasil prevê a simplificação dos impostos sobre o consumo, com a substituição de PIS/Cofins, ISS, ICMS e IPI por dois tributos, o IVA (Imposto sobre Valor Agregado que que é dual: inclui o CBS – Contribuição sobre Bens e Serviços, para a União; e o IBS – Imposto sobre Bens e Serviços, para estados e municípios) e o IS (Imposto Seletivo). A transição vai de janeiro de 2026 a dezembro de 2032.
O IVA tem alíquota estimada entre 26,5% a 28,6% e previsão de redução de 60% da alíquota de itens como insumos agrícolas, além de 0% de alíquota para produtos da cesta básica nacional e para produtos agropecuários in natura — como hortifrutícolas, ovos, leite, café, carnes.
Nesse contexto, a reforma tributária exigirá que empresas do setor atualizem seus sistemas de informação para a nova realidade. Veja neste artigo quais são os principais impactos nos sistemas e como se preparar. Boa leitura!
Impactos da reforma tributária no agronegócio
Criada por meio da Emenda Constitucional 132/2023 (EC 132/2023) e a Lei Complementar 214/2025 (LC 214/2025), a reforma tributária provocará diferentes impactos no agronegócio brasileiro.
A previsão é de que em 15 anos haja crescimento entre 10,6% e 18,2% do PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio, segundo estudo divulgado pelo Ministério da Fazenda.
A reforma tributária beneficiará produtores rurais com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões, os quais não serão enquadrados no regime geral de tributação e poderão gerar crédito presumido para quem adquire seus produtos.
Por outro lado, produtos e insumos hoje isentos ou com alíquota zero, como defensivos agrícolas e sementes, passarão a ser tributados, mesmo que de forma reduzida (terão isenção de 60% de CBS/IBS), o que pode encarecer a produção.
Há incertezas também quanto à regulamentação de um novo tributo, o Imposto Seletivo, que poderá incidir sobre itens ligados ao agro com potencial impacto ambiental, como combustíveis fósseis e, possivelmente, agrotóxicos. Veja abaixo um resumo da reforma tributária:

Para essas empresas, o produtor rural deve sentir de forma intensa os efeitos da reforma por conta do aumento da carga tributária, do fim das isenções para insumos e do fim dos incentivos fiscais, afetando diretamente a competitividade da produção.
A complexidade na transição tributária também preocupa e pode gerar insegurança jurídica e contábil, além de custos adicionais para o setor, impactando também os sistemas de informação.
O papel dos sistemas de informação no agro
Os sistemas de informação possuem grande importância para a gestão de fazendas e agroindústrias, auxiliando na tomada de decisões importantes a partir da coleta e análise de dados, muitas vezes de forma automatizada.
Eles referem-se a tecnologias, plataformas e processos organizados que coletam, armazenam, gerenciam e distribuem informações, sejam elas fiscais, contábeis, operacionais ou gerenciais, visando auxiliar na tomada de decisão e no cumprimento de obrigações legais e regulatórias.
Alguns exemplos de sistemas da informação são:
- ERP (Enterprise Resource Planning): são sistemas integrados de gestão que reúnem dados de diferentes áreas da empresa, como financeiro, contábil, fiscal, comercial e logística;
- Sistemas de gestão fiscal e contábil: gerenciam o cumprimento das obrigações acessórias (SPED, eSocial, EFD-Reinf etc.), apuração de tributos, emissão de notas fiscais, escrituração digital, entre outros;
- Sistemas de gestão agroindustrial: voltados especificamente para atividades agropecuárias, integrando desde a produção no campo até a industrialização e comercialização;
- Business Intelligence (BI): plataformas que organizam dados fiscais e operacionais em dashboards para análise estratégica e previsões.
Com a reforma tributária, esses sistemas terão de passar por alterações para que funcionem de acordo com as novas regras de tributação, que vão gerar grande impacto por conta das mudanças das alíquotas, sobretudo durante a fase de transição, cujo cronograma você pode conferir com mais detalhes abaixo:

Como a reforma tributária impactará os sistemas de informação
A reforma tributária do consumo trouxe uma mudança significativa na forma como os créditos de impostos serão apropriados pelos contribuintes.
Uma das principais transformações é a adoção do crédito financeiro, que substitui o modelo anterior de crédito contábil.
No modelo antigo, o produtor rural podia aproveitar os créditos de impostos no momento da compra dos insumos, o que ajudava a suavizar o impacto no caixa nos meses de plantio.
Com a nova sistemática, os créditos de CBS e IBS passam a ser apropriados apenas após o recolhimento do tributo pelo fornecedor, o que pode levar semanas ou meses, a depender da cadeia.
Isso pode representar um desencaixe de caixa, já que o produtor antecipará gastos com insumos e só poderá recuperar parte dos tributos posteriormente. Para um setor com ciclos longos como o agro, isso muda a lógica de planejamento financeiro.
Essas mudanças mostram como será necessário reconfigurar os sistemas de gestão tributária e financeira utilizados pelas empresas do agro e os desafios para ERPs, sistemas fiscais e agroindustriais.
Principais impactos nos sistemas de informação
Estes são os principais impactos nos sistemas de informação:
- as alíquotas serão calculadas com critérios distintos dos atuais;
- a apuração dos créditos passa a seguir o modelo financeiro, não cumulativo;
- a rastreabilidade das operações se torna crítica para evitar bitributação;
- o cumprimento das obrigações acessórias digitais será reestruturado.
No caso do SPED, é de grande importância estar atento aos módulos obrigatórios, sendo os mais relevantes para o agro o Fiscal, Contribuições, Contábil, o de Escrituração Contábil Fiscal, o eSocial e o Reinf.
Isso porque a reforma cria novos tributos, com novos regimes de apuração, alíquotas e regras de crédito, o que gera implicações, como:
- Criação de novos layouts de SPED para CBS e IBS;
- Substituição ou descontinuidade de módulos atuais (como SPED PIS/Cofins);
- Maior exigência de automação e integração dos dados para garantir conformidade.
Um exemplo prático é que se hoje uma agroindústria precisa preencher o SPED Contribuições com base na legislação do PIS e da Cofins, detalhando cada operação de compra e venda, com a reforma isso será substituído pela CBS e o SPED atual possivelmente será reformulado ou substituído para refletir as novas regras.
Conclusão
A reforma tributária exigirá a reconfiguração de sistemas ERPs, fiscais, contábeis e agroindustriais, para lidar com novas alíquotas, formatos de escrituração e exigências de rastreabilidade digital.
Nesse cenário, a automação, a integração de dados e a conformidade com os novos layouts oficiais, deixarão de ser diferenciais e passarão a ser condições essenciais para a continuidade dos negócios.
Preparar-se tecnicamente para essas mudanças, com atualizações nos sistemas e capacitação das equipes, é uma atitude estratégica que pode evitar riscos fiscais e garantir competitividade durante e após a transição tributária.
Assim, mais do que um desafio contábil, a reforma tributária é uma oportunidade para as empresas do agro revisarem seus processos digitais, tornarem-se mais eficientes e alinhadas às exigências de um mercado cada vez mais conectado e regulamentado.
Quer acompanhar todos os impactos da reforma tributária no agronegócio brasileiro? Conheça o Portal Aliare da Reforma Tributária.
Autoria de Danielly Carmo
Mais de 15 anos de experiência na área contábil e fiscal, especialista nas demandas do agronegócio. Possui amplo histórico de atuação na coordenação de operações fiscais e contábeis, além da gestão de empresas.